Chapecoense: Quase um ano depois, relatório do acidente aéreo ainda não saiu

Com isso, famílias não conseguem indenização, e até mesmo a seguradora se recusa a pagar. Demora aumenta sofrimento dos parentes das vítimas

Para 71 famílias, a dor de perder seus entes queridos devido à queda do avião que transportava o time da Chapecoense (SC) não diminuiu. A cada conversa com uma viúva, um órfão ou uma mãe, constata-se, em suas vozes, a mesma tristeza presente em 29 de novembro de 2016, data da tragédia. Era madrugada, no Brasil, quando a aeronave lotada de jogadores, comissão técnica e jornalistas caiu entre as cidades de La Unión e La Ceja del Tambo, na Colômbia. Apenas seis pessoas sobreviveram.

Um ano depois do desastre aéreo, é como se o tempo tivesse estacionado. Principalmente porque as famílias não sabem, até hoje, a quem culpar. Há cerca de um mês, o Ministério Público Federal de Santa Catarina, estado de origem do clube, concluiu inquérito no qual afirma que a Chape não foi negligente ao contratar a empresa aérea LaMia. Enquanto isso, a companhia tenta se esquivar da culpa, jogando a responsabilidade para o piloto, que também morreu no acidente.

O governo colombiano, responsável pela investigação oficial, ainda não divulgou o relatório final sobre o que teria levado à queda do avião. A expectativa era de que o documento fosse apresentado antes de a tragédia completar um ano, mas agora a promessa é de que isso ocorra até o fim deste ano.

O fato de a investigação envolver três países com legislações distintas – Brasil, Colômbia e Bolívia, já que a LaMia seria boliviana – só traz mais complicações na busca por justiça. No entanto, um quarto elemento somou-se à confusão jurídica: as investigações teriam chegado até a Venezuela, pois informações preliminares do Ministério Público colombiano dão conta de que uma importante família do país controla, à distância, a companhia aérea. Entre os chefões estariam Loredana Albacete Di Bartolomé e seu pai, Ricardo Albacete Vidal, ex-senador do país.

Por ora, um relatório preliminar aponta como culpados os donos oficiais da LaMia e autoridades do governo boliviano. São eles: Celia Castedo, funcionária da empresa que administra os aeroportos na Bolívia; Joons Teodovich, à época supervisor do tráfego aéreo do país; Gustavo Vargas Gamboa, diretor-geral da LaMia; Gustavo Vargas Villegas, filho de Gamboa e alto funcionário da direção-geral de aviação civil; além de Marco Rocha, um dos donos da empresa aérea.

Sem indenização ou seguro

Enquanto todos os países envolvidos tentam se livrar das acusações, as famílias das vítimas não receberam praticamente indenização alguma. Até agora, os parentes dos jogadores mortos só contaram com as rendas de alguns amistosos realizados para arrecadar fundos e os seguros do clube (14 vezes o salário do jogador) e da Confederação Brasileira de Futebol (12 vezes a remuneração do atleta).

A seguradora Bisa – que deveria pagar cerca de US$ 25 milhões, ou R$ 80 milhões – recusa-se a repassar o valor, sob a alegação de que o acidente ocorreu por erro do piloto Miguel Quiroga. A empresa propôs indenizar em US$ 200 mil (R$ 646 mil) cada família, mas, para isso, ao menos 51 delas precisariam desistir de qualquer ação judicial, o que não ocorreu.

Na luta por justiça, famílias e amigos criaram duas organizações. A primeira, chamada Associação Brasileira das Vítimas do Acidente com a Chapecoense (Abravic), recebeu, no último mês, R$ 28 mil para apoiar as vítimas. A promessa é que o valor passe a ser depositado mensalmente. A outra, a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (Afav-C), por enquanto, dá apenas suporte psicológico.

Dos quatro sobreviventes brasileiros da tragédia, três seguem trabalhando no clube. O lateral-esquerdo Alan Ruschel voltou aos gramados em agosto deste ano. O zagueiro Neto ainda não consegue jogar, mas acredita que terá condições na temporada 2018. O goleiro Follmann, que perdeu a perna direita no acidente, está estudando e ganhará um cargo na diretoria do clube. O jornalista Rafael Henzel trabalha na mesma rádio de Chapecó. Recentemente, ele lançou o livro “Viva Como se Estivesse de Partida”, com relatos do acidente.

A tragédia

Era madrugada de uma terça-feira quando o avião que transportava a delegação da Chapecoense para a primeira final internacional de sua história caiu. O time estava indo jogar a partida de ida da decisão da Copa Sul-Americana. O adversário era o Atlético Nacional, de Medellín, da Colômbia. A Chape vivia o melhor momento desde a sua fundação, em 1973.

Na aeronave estavam 77 pessoas, entre jogadores do time brasileiro, comissão técnica e jornalistas do país que iriam cobrir o jogo, além da tripulação. Dessas, 71 morreram, incluindo 19 jogadores da Chapecoense. Quatro brasileiros e dois tripulantes sobreviveram.

As primeiras investigações indicaram que a falta de combustível teria levado à queda do avião. O “fator humano” também foi apontado como possível causa da tragédia. No entanto, as famílias ainda aguardam o relatório final sobre o que teria levado ao desastre.

Fonte Metrópoles – Por Larissa Rodrigues