Artigo: Iceberg dos custos

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Por Solange Beatriz Mendes

Quando um bloco de gelo se desprende de uma geleira, muitas vezes não se tem ideia de seu tamanho, de sua magnitude, porque a maior parte dessa massa está submersa, longe dos olhos. Com os custos na área da saúde privada, é semelhante.

O seu efeito parece ter a ver apenas com o que está acima da linha d’água — o aumento das mensalidades. Em 2018, a discussão será em um cenário da mais baixa inflação dos últimos 20 anos. Como explicar que o reajuste deva vir acima da inflação? Para compreender esse fato, não bastará olhar para a ponta do iceberg.

As operadoras de planos de saúde são as únicas reguladas e fiscalizadas pelo governo, com processos consolidados e transparentes de prestação de contas. Mesmo assim, 85% dos custos das operadoras não são por elas gerenciáveis. É a imensa massa abaixo da linha d’água do iceberg. A alta proveniente dos serviços médicos é repassada ao consumidor.

Para cada R$ 100 recebidos, o setor gasta R$ 99,3. Poucos sabem que, nos últimos dez anos, em termos práticos, o setor só conseguiu se sustentar pelo resultado financeiro das reservas que protegem os riscos.

Embora o crescimento dos gastos da saúde seja uma realidade no mundo todo, o Brasil chama a atenção. A nossa inflação médica está entre as dez mais elevadas em 2016, segundo relatório da consultoria Aon Hewitt. O que pesa nesse resultado? O avanço da tecnologia médica e o aumento da utilização dos serviços médicos.

Por exemplo, a quantidade de utilizações aumentou 6,4% de 2015 para 2016, totalizando 1,4 bilhão de procedimentos (o equivalente a quatro milhões de procedimentos/dia), mesmo tendo ocorrido a perda, no mesmo ano, de 1,5 milhão de consumidores.

Por isso, quando comparada com os índices de inflação, a variação dos gastos com saúde vem aumentando consideravelmente. Entre 2008 e 2016, o IPCA atingiu 65,2%, contra despesas assistenciais médico-hospitalares per capita da ordem de 142,8%, sendo que o reajuste autorizado pela ANS foi de 104,2%. A conta não fecha.

FONTE: Sonho Seguro