No meio do caminho

Se Carlos Drummond de Andrade fosse gaúcho e morasse em Porto Alegre em 2017, o famoso poema No meio do caminho teria como ator principal o buraco e não a pedra. Não há rua por onde se ande na cidade que não seja preciso desviar de algum buraco no asfalto. Ou então de algum cavalete ornamental colocado pela EPTC (há quanto tempo?) para sinalizar um buraco perigoso. Alguém está contando quantos dias faz que a cratera está aberta na Avenida Nilo Peçanha? Eu já perdi a conta.

Além dos incontáveis buracos que a prefeitura não dá conta de tapar, pois basta chover para surgirem novos, temos um asfalto digno de estudo nos maiores centros de pesquisa. Com uma durabilidade, no mínimo suspeita, basta chegar ao final do recapeamento para já notarmos sinais de desgaste onde a obra iniciou. Com a prefeitura sem dinheiro surge a dúvida: por que nunca se tem dinheiro para fazer bem feito, mas se tem dinheiro para refazer?

O buraco é mais do que o símbolo do descaso do poder público com a mobilidade, é um descaso também com a saúde. Sim, pois para desviar dos buracos do caminho muitos motoristas são obrigados a fazer manobras bruscas e inesperadas, colocando a segurança de pedestres, motoristas e motociclistas em risco. De acordo com o Ministério do Trabalho, os acidentes de trânsito são a principal causa de afastamento no trabalho e cerca de 60% dos leitos hospitalares são ocupados por vítimas no trânsito no país. O buraco, com o perdão do trocadilho, é mais embaixo.

A população, que já arca com impostos altos com muitas vezes o mínimo de retorno, ainda se vê exposta tanto em relação a saúde quanto a seus patrimônios. Passar por buracos repetidamente estraga o alinhamento do veículo, a suspensão, pneus e pode prejudicar a segurança do mesmo. Com isso, os custos de manutenção ficam ainda mais elevados e pode levar quem não tem condições financeiras a andar com um veículo desregulado, oferecendo ainda mais risco aos demais. Ah, poeta, antes fossem só pedras no caminho dos porto-alegrenses…

Guacir de Llano Bueno

Presidente do SINDSEGRS

Artigo publicado no ZH Digital do dia 21/11