O surpreendente assassinato do diretor-executivo da UnitedHealthcare, uma Gigante dos seguros médicos privados dos nossos irmãos do norte, a tiros em Nova York, se anuncia como o próximo espetáculo midiático do Império Estadunidense, bem ao gosto dos aficionados pelos dramas jornalísticos e especialmente televisivos com nuances cinematográficas.
O julgamento, claro, se arma para descortinar o grande palco da exposição pública desta tragédia e certamente contará com torcidas rivais e frenética para ambos os lados.
O do bandido/mocinho/herói, o assassino que fez um bem para vencer o mal em nome de todos os bons cidadãos do planeta, e de consternados com a vítima indignados com a suposta justiça pelas próprias mão ferindo um dos mais severos mandamentos.
Evidente, não será a primeira nem a última vez que o teatro receberá plateia tão grande e ferozmente embandeirada sem contar com o preparo do entorno onde a ordem de comando é a profusão de uma sequência de intermináveis debates em todos os cantos, programas de TV, rádio, bares, praças, ruas, durante todo o julgamento, cujas causas, motivos e repercussões serão por meses debatidos e, consagrada, a discussão virará filme se eternizando na indústria do “entretenimento” com salas cheias, séries em TV por assinatura, e falatório sabe-se lá até quando.
Na chegada para o início dos trabalhos, e, na saída pós veredito, teremos grupos com cartazes de protestos e ou euforia pelas torcidas antagônicas e declarações veementes de justiça e ou injustiça.
Foi assim no caso O.J. Simpson, preso em 1994, absolvido no crime, mas condenado no cível em ação indenizatória.
Até hoje se abrirmos qualquer discussão sobre o case, sobram opiniões para todos os lados.
Noutra esfera a “Guerra dos Roses”, no caminho inverso do cinema, veio para a realidade como a encarnação da história por uma batalha entre o astro globalizado Johnny Deep e Anne Hathaway, que deixou o “Mão de Tesoura” e sua ex esposa expostos aos mais deploráveis, merecidos ou não, conceitos de todo o planeta.
O Show imita a vida ou a vida imita o show, como o ovo e a galinha, o fato é que ambos não param. Para este teatro nunca faltaram atores protagonistas.
O grande júri popular, de verdade, não comporta espaço nem tempo para ser apresentado, tampouco um dia terá fim.
Ao que tudo indica o julgamento do assassinato de Brian Thompson, naquele 4 de dezembro, não tem data para terminar, tampouco o assassino Luigi Mangione tem data para ser absolvido ou condenado.
Ambos viverão para a eternidade na boca da plateia e na memória dos seus ascendentes, descendentes, parentes, amigos conhecidos e desconhecidos, cada um com sua própria sentença, como em Caim e Abel.
E quando você estiver quase esquecendo ou não se lembrar mais, num filme em meio a madrugada num destes canais de assinantes haverá uma reprise ou episódio de um longa, mini ou série, para te refrescar a memória adormecida.
O efeito colateral disto depende da dimensão que o julgamento pode trazer, claro, mas não creio que saiam, por lá (nos EUA) ou qualquer outro lugar da terra matando executivos de seguros.
Por aqui, já basta o bolo envenenado da nora por uma discussão tola.
No que podemos aproveitar para aprender com isto?
Bem, o caso trouxe nos EUA uma atenção até então quase desapercebida fora do âmbito do setor e do país.
Nas investigações das razões de crime tão irracional se encontrou uma persistente e exagerada prática da empresa de seguros em negar atendimentos, recusar pagamentos, protelar indenizações e dificultar o cumprimento das finalidades das obrigações devidas com os segurados.
Que isto causa indignação é sabido, tampouco cabe desconfianças sobre o sentimento humano de vingar ofensas e arranhões à estabilidade da saúde de filhos e afins, ou seja, uma mãe ou um pai que se vê diante da impossibilidade de obter atendimento com prejuízo à saúde de um dos seus é capaz de tudo.
Não se pode subestimar a revolta de ninguém.
O que surpreende no episódio é que até onde se sabe o assassino não tinha nenhum vínculo maior com alguém que tivesse passado por dificuldades no setor.
Mas também se flagrou que havia, como dito, uma incontável onda de reclamos na internet de pessoas que se diziam prejudicadas e violentadas pelo proceder contínuo e assíduo da Gigante dos Seguros em, supostamente, proceder errado, e, na figura do seu Representante, teria recaído a escolha para a vingança enlouquecida de alguém que se achava Justiceiro e que ao liquidar o inimigo destas pessoas para elas está se tornando herói.
Um perigo isto tudo.
Voltando à aldeia, com facilidade se constata, em vários sites, ao estilo Reclame Aqui, que existem muitas queixas no setor da saúde securitária, parece que não tão volumosas ou veementes como as que haveriam lá, mas muitas, de diversas natureza como atendimento demorado quer para reembolsos, quer para liberação de alguns exames quer para respostas quê careceriam de urgência, provocando até mesmo adiamento de cirurgias, em crianças e adultos face demoras em autorização.
Concomitantemente se multiplicam nas redes perfis de profissionais da área dispostos a buscar responsáveis e indenizações correspondentes.
Não, não creio que loucos, raivosos, revoltados em geral, sairão por aí matando executivos do setor, mas o sinal de alerta tem de ser ligado, ao menos para manter em alta a reputação e imagem de um setor que no passado, década de 70, foi tão vilipendiada.
Neste ponto me assalta a imensa importância do serviço de Ouvidoria.
Conheço ótimos e competentes profissionais do ramo, no país inteiro, e tenho convicção de que estão muito focados nesta matéria.
As redes sociais hoje possuem um poder crescente e, às vezes, quase assustador.
Seria interessante uma cuidadosa observação, também, nos sites do tipo e uma boa conferência nos atendimentos e sinistros reclamados talvez redobrada esta vigilância.
Não foi o Seguro que morreu de velho?
Saudações.
CARLOS JOSIAS MENNA DE OLIVEIRA
C JOSIAS E FERRER ADVOGADOS ASSOCIADOS