Dia da Consciência Negra e os caminhos para alcançar a diversidade e inclusão em setores tradicionais e na indústria de seguros

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Ia da Consciência Negra é reconhecido como feriado nacional

Na última quarta-feira (20), o Brasil celebrou o Dia da Consciência Negra, uma data destinada a refletir sobre a história e a contribuição do povo negro no país.

Em 2024, pela primeira vez, o dia foi oficializado como feriado nacional, marcando um avanço significativo na valorização da luta contra o racismo e as desigualdades estruturais.

Lei 14.759/2023, que inclui no calendário oficial o Dia da Consciência Negra e o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares, foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em dezembro do ano passado.

A luta histórica pela igualdade e o significado da data

O dia homenageia Zumbi dos Palmares, símbolo de resistência e liderança na luta pela liberdade dos negros escravizados no Brasil. A inclusão do feriado nacional reflete anos de mobilização social e política.

Em 2011, a data foi incorporada ao calendário escolar, mas apenas em 2024 obteve reconhecimento mais amplo. A deputada Reginete Bispo (PT-RS), relatora da lei que oficializou o feriado, ressalta o significado da data como um momento para honrar a resistência histórica do povo negro no Brasil. “O Zumbi dos Palmares foi um líder quilombola.

Os quilombos foram territórios de luta e resistência; […]. Não era só de fuga da escravidão, mas era um território de organização e de articulação, de luta contra a escravidão”. Zumbi dos Palmares, um dos principais líderes quilombolas, simboliza essa força coletiva que transcende os estereótipos históricos.

Apesar dos avanços conquistados, Reginete reconhece que ainda há desafios significativos, como a superação das desigualdades no mercado de trabalho, para que o Brasil alcance uma sociedade mais justa e equitativa.

População negra é maioria no Brasil, mas apenas 8% ocupam cargos de liderança

Segundo dados do IBGE, 56,1% da população brasileira se autodeclara negra, incluindo pretos e pardos. No entanto, a presença desse grupo em cargos de liderança ainda é extremamente baixa: apenas 8% dos profissionais negros ocupam posições de decisão em seus ambientes de trabalho.

Esse dado foi revelado pela pesquisa “Lideranças em Construção: Por que a Trajetória de Profissionais Negros é Tão Solitária? ”, conduzida pela consultoria Indique uma Preta, especializada em Diversidade & Inclusão, e pela Cloo, empresa de investigação e consultoria comportamental.

O estudo também destaca que pessoas negras, em geral, têm menores graus de escolaridade e fluência no inglês, além de enfrentarem um cenário de insegurança psicológica e sofrimento devido à falta de oportunidades de crescimento nas empresas.

De acordo com o portal de Negócios da Época, a inclusão de profissionais negros no mercado corporativo é um dever moral das empresas. A matéria enfatiza essa visão, ancorando-se na perspectiva do filósofo John Rawls, que afirmou que a justiça deve guiar as instituições sociais e que isso só se concretiza com uma distribuição equitativa de oportunidades.

Desigualdade racial e ausência de representatividade nos setores tradicionais

A falta de representatividade negra em cargos executivos é uma realidade gritante. Setores tradicionais, como o de seguros e uma gama de empresas do universo corporativo têm a responsabilidade de criar um ambiente verdadeiramente inclusivo, a fim de subverter séculos de exclusão histórica. Em um evento promovido pela Escola Superior da Advocacia-Geral da União (ESAGU), a filósofa Djamila Ribeiro destacou como desigualdades históricas no Brasil foram moldadas por leis, como a Constituição de 1824 e a Lei de Terras de 1850, que limitavam o acesso de negros a direitos básicos.

Djamila reforçou que a negação do racismo como sistema de opressão atrasou o país e que avanços atuais só foram possíveis graças à luta de movimentos negros. Ela enfatizou a importância de ampliar narrativas e reflexões sobre diversidade e inclusão, destacando que a desigualdade não só prejudica a população negra, que é mais afetada, mas também o desenvolvimento da sociedade brasileira como um todo.

O impacto das ações afirmativas e a responsabilidade corporativa

Empresas que investem na inclusão de profissionais negros relatam benefícios como maior criatividade, fortalecimento da cultura corporativa e melhor compreensão dos consumidores.

Apesar disso, muitos trabalhadores negros ainda enfrentam microagressões, isolamento e racismo no ambiente de trabalho. O Movimento pela Equidade Racial (MOVER), fundado em 2021, reúne 56 empresas comprometidas em ampliar a presença de pessoas negras em cargos de liderança e melhorar suas condições de vida.

Embora já tenham superado a meta de 1.277 líderes negros em 2023, o desafio de atingir 10 mil líderes até 2030 permanece, especialmente diante da redução global de investimentos em diversidade. Luciene Rodrigues, gerente sênior do MOVER, destacou em entrevista ao Exame que o Brasil, devido à sua história marcada pela escravidão e pelo racismo estrutural, necessita de ações afirmativas específicas para sua realidade.

Para o avanço efetivo, iniciativas como o MOVER precisam ir além de números, promovendo mudanças culturais profundas e criando ambientes corporativos verdadeiramente inclusivos. O compromisso dos líderes empresariais é essencial para transformar a inclusão racial em um pilar estruturante das organizações.

Práticas de inclusão se desenvolvem no setor de seguros

No setor de seguros, a inclusão é uma prioridade estratégica para transformar culturas organizacionais e promover igualdade. O Dia da Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros, celebrado em 25 de setembro desde 2019, foi criado pela CNseg para incentivar ações de valorização das diferenças e um ambiente mais inclusivo.

Além disso, estudos mostram que empresas diversas impulsionam a inovação, e podem obter melhores resultados financeiros. Globalmente, programas como o Inclusive Futures, liderado pela Lloyd’s, buscam apoiar a ascensão de profissionais negros e etnicamente diversos, com ações baseadas em contribuições de especialistas e experiências de colaboradores do setor.

Desenvolvido com a contribuição de especialistas e de mais de 250 profissionais etnicamente diversos, o programa busca gerar mudanças estruturais no setor. Com uma postura inclusiva, as seguradoras têm maior capacidade de desenvolver produtos alinhados às necessidades de públicos variados.

No entanto, a luta por igualdade ainda é extensa e a mudança estrutural exige comprometimento contínuo de governos, empresas e sociedade civil para combater práticas discriminatórias e ampliar oportunidades de forma concreta.

Um chamado para a ação 

A celebração do Dia da Consciência Negra como feriado nacional em 2024 marca um avanço simbólico, mas evidencia que a luta por diversidade e inclusão em setores tradicionais, como o de seguros, ainda está longe de ser concluída.

A sub-representação negra em cargos de liderança, os desafios enfrentados no ambiente corporativo e a necessidade de mudanças estruturais demandam um compromisso efetivo e contínuo de todos os agentes da sociedade.

Seguradoras que investem na inclusão, além de demonstrarem comprometimento com a justiça social, também conseguem resultados mais satisfatórios, contando com uma equipe diversificada. Contudo, é preciso ir além das datas comemorativas, assumindo a responsabilidade de transformar discursos em práticas e reconhecendo que o progresso exige esforço coletivo consistente.

Uma sociedade que abraça a diversidade é mais justa e preparada para o futuro. Assim, o dia 20 de novembro também é um chamado para que cada organização e indivíduo reflita sobre como pode contribuir para a construção de um lugar corporativo mais inclusivo, onde talentos não sejam desperdiçados por causa de desigualdades estruturais raciais, mas reconhecidos e valorizados.

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 Fonte: Insurtalks I CQCS