Desde março de 2016, os motoristas das categorias C, D e E (habilitados para dirigir vans, ônibus e caminhões) são obrigados a fazer o exame toxicológico de larga janela, que permite detectar, através de uma pequena quantidade de cabelo, pelos ou unhas, se o condutor fez uso regular de drogas nos últimos 90 dias.
Primeira política pública de prevenção contra o uso de drogas por motoristas desde que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) entrou em vigor, a aplicação do exame toxicológico obteve resultados tão expressivos que a iniciativa brasileira foi apresentada, no dia 27 de abril, no evento “The Use of Technology to Promote Road Safety: The Brazilian Experience”, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque.
Pelo trabalho realizado pelo SOS Estradas ao longo dos anos, fui convidado a falar no evento sobre a dura realidade dos motoristas profissionais no Brasil, o que faz com que muitos apelem para as drogas a fim de suportar a jornada.
Um dos pontos que destaquei foi o fato da obrigatoriedade da aplicação do exame ter feito com que mais de 1,2 milhão de motoristas profissionais não tivessem suas carteiras renovadas nos primeiros dois anos. Do total, cerca de 900 mil sequer pediram para mudar para a categoria B, que permite que eles dirijam um automóvel e, assim, evitem a necessidade do exame.
Essa prática é o que qualificamos como “positividade escondida”, que ocorre quando o motorista não comparece para renovar a carteira porque sabe que o exame vai detectar o uso regular de drogas nos últimos três meses. No entanto, existem poucas alternativas, dentre elas simplesmente desistir da profissão, esperar passar o efeito das drogas ou buscar tratamento para se livrar delas.
Os resultados obtidos pelo Brasil estão agora repercutindo mundialmente e o espaço oferecido pela ONU para o Governo Brasileiro apresentar essa política é o reconhecimento de que, quando o Estado e a iniciativa privada trabalham para o bem comum, é possível tornar o nosso país um bom exemplo. No combate ao uso de drogas por motoristas profissionais, o Brasil tem do que se orgulhar.
Fonte: Rodolfo Rizzotto, Coordenador do SOS Estradas