Riscos de catástrofes naturais é o grande desafio do setor dos seguros

Os incêndios de 2017 custaram 250 milhões de euros às seguradoras e Lisboa é a segunda cidade europeia com maior risco sísmico na Europa.

As alterações climáticas e os fenómenos sísmicos são as duas grandes origens das catástrofes naturais. José Galamba de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Seguradoras diz que os países “já perceberam a dimensão das crescentes catástrofes naturais.

No entanto, há alguma dificuldade em identificar e implementar medidas concretas para mitigá-las”.

Recorde-se que a APS e o regulador contribuíram para a apresentação de um projeto de diploma para a criação de um sistema de proteção para riscos de catástrofes naturais que incluía a cobertura de risco sísmico a nível nacional.

Agora, já se fala em alargar essa cobertura, embora em outros moldes, a tempestades e inundações. O fundo sísmico passou, aliás, a ser uma prioridade nacional, sobretudo com a severidade com que aparecem os eventos de catástrofes da natureza.

O LNEC faz em tempos estudos sobre o impacto deste risco na economia e na sociedade portuguesa e falava em dezenas de milhar de mortos e centenas de milhar de desalojados.

E a nossa história recente não deixa dúvidas. O ano de 2017 vai ser lembrado como um dos mais trágicos em termos de incêndios, tanto no total de área ardida como em número de vítimas mortais.

Perante o cenário catastrófico provocado pelos incêndios de Pedrógão Grande, que deflagrou a 17 de junho, as empresas seguradoras fizeram o levantamento dos processos e foi possível identificar nos incêndios dos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, um total de quase 500 processos de sinistro, a maior parte destes referentes a seguros de habitação.

O sector contabilizou ainda um custo global seguro de cerca de 22 milhões de euros. A intervenção do sector segurador foi de novo posto à prova na segunda vaga de incêndios de grandes proporções que aconteceu em outubro de 2017, nas regiões norte e centro do país.

Naquele que foi o maior sinistro da história da atividade seguradora em Portugal, as empresas receberam a participação de cerca de 5.500 processos de sinistro, em que, quase três quartos eram referentes a seguros de habitação.

Mais de 250 milhões de euros de indemnizações resultaram desta tragédia, sendo que mais de três quartos desse valor se destinou a indemnizar as perdas sofridas por empresas de comércio e indústria, segundo fonte institucional da Associação Portuguesa de Seguradores (APS).

Para o presidente da APS, José Galamba de Oliveira, “em geral, diria que não estamos preparados para uma grande catástrofe e especialmente se for de natureza sísmica. Nesse sentido entendemos ser necessário criar soluções estruturais que passem pela constituição de um mecanismo de proteção de riscos catastróficos para o nosso país.

Este tipo de mecanismo de mitigação de riscos catastróficos passa frequentemente pela criação de uma entidade gestora que agregue o Estado e seguradores com a responsabilidade na criação e gestão de um pool de resseguro (acedendo a resseguradores internacionais) e a criação de fundos que vão sendo alimentados por contribuições de parte dos prémios de seguros multirriscos ou de incêndios”.

Em entrevista recente, publicada na última revista da APS, José Galamba de Oliveira afirma que a Associação tem vindo a desenvolver estudos técnicos com vista à elaboração de uma proposta para a criação deste mecanismo de proteção para fazer face, numa primeira fase, a perdas associadas a sismos, nas habitações alargando-se numa fase posterior a outros riscos de natureza catastrófica nomeadamente grandes inundações, tempestades ou incêndios.

Mas, na mesma entrevista, José Galamba de Oliveira realça que para além dos incêndios houve outros eventos extremos, para os quais as seguradoras foram também chamadas a intervir.

O presidente da APS referia-se em particular ao furacão Leslie que, em outubro de 2018, assolou a região centro do país. Neste caso, foram acionados mais de 38 mil contratos de seguro que correspondem a um volume de indemnizações superior a 100 milhões de euros.

“Apesar da gravidade e severidade destes fenómenos extremos, o sector mostra ter capacidade operacional e financeira para uma resposta atempada, de resto reconhecida publicamente por vários intervenientes”, garante José Galamba de Oliveira.

Sinistros crescem

As alterações climáticas estão a afetar as contas das famílias e das seguradoras. Os riscos catastróficos são cada vez maiores e mais violentos. As perdas por catástrofes têm tendência para aumentar, pois os desastres naturais, com o efeito das alterações climáticas, têm impactos cada vez maiores.

Segundo o “Global Catastrophe Recap: First Half of 2019”, publicado pela Aon, só no primeiro semestre deste ano registaram-se pelo menos 163 desastres naturais. Ainda assim, um valor abaixo da média do século XXI, que é de 180.

As perdas económicas estimadas pela Aon foram de 66,5 mil milhões de euros, com as perdas seguradas, definidas como pagamentos de sinistros pelo mercado privado de seguros e entidades públicas de seguros, durante o primeiro semestre deste ano a chegarem aos 18,2 mil milhões de euros.

Mas a Aon salienta ser provável que hajam revisões significativas em alta dos valores a pagar pelas seguradoras, principalmente nos Estados Unidos e Europa. Regiões onde se verificaram eventos de grande escala, como inundações nos EUA e granizo severo e danos à seca nas lavouras na Europa, durante os meses de junho e julho, o que resultará num período prolongado para que os agricultores façam o balanço das perdas de colheitas e rendimentos potenciais.

Os seis primeiros meses do ano foram marcados por muitos desastres de média escala, mas que foram impactantes para muitas comunidades em todo o mundo, mas, apesar de tudo, não foram muito significativos do ponto de vista de perda financeira.

Foi o que aconteceu na Europa, Oriente Médio e África (EMEA) com 50 registos de desastres notáveis e Ásia-Pacífico (APAC) com 45. Os EUA foram assolados por 37 desastres e o resto do continente americano por outros 20. Os perigos de inundação e mau tempo (inundações) foram o principal fator causador de perdas económicas cobertas por seguros durante o primeiro semestre de 2019.

Além disso, o clima severo e os ventos fortes na Europa foram os únicos que registaram perdas seguradas acima da média, em comparação com a linha de base do século XXI.

As perdas económicas registadas apenas pelo clima, são estimadas pela Aon em 65,5 mil milhões de euros.

Os desastres naturais provocaram a morte de cerca de 3.800 pessoas durante o primeiro semestre de 2019, um valor significativamente abaixo da média de longo prazo que é de 37.400.

Os ciclones tropicais e as inundações foram os perigos mais mortais, sendo responsáveis por pelo menos 1.500 e 1.425 mortes, respectivamente. A maioria das mortes ocorreram em África devido a ciclones tropicais.

As perdas económicas resultantes de catástrofes naturais ficaram abaixo da média em todas as regiões do globo, exceto nos EUA, onde ficaram 14% acima da média do século XXI. No entanto, as perdas para todas as regiões são superiores às respetivas médias desde 2000.

Ainda no primeiro semestre de 2019, aconteceram pelo menos 17 eventos que causaram prejuízos bilionários, nos EUA, África e América do Sul.

Fonte: Jornal Económico