Propostas do governo sobre o trânsito dividem a opinião de especialistas

A principal preocupação é que as medidas aumentem a violência no trânsito. O Brasil é um dos países mais inseguros do mundo em vias expressas, com média anual de 47 mil mortes em decorrência de acidentes.

Barrar a renovação e instalação de novos radares de velocidade nas rodovias federais, instituir o fim da obrigatoriedade de aulas em simuladores de direção veicular nas autoescolas, além de dobrar a pontuação e aumentar o prazo para renovação da CNH.

Esse conjunto de projetos polêmicos, divulgados recentemente pelo Governo Federal, estão gerando controvérsias e preocupação entre especialistas.

Isso porque a segurança no trânsito é um problema de saúde pública no Brasil. O país é 4° no ranking com mais mortes de trânsito no mundo, são cerca de 47 mil mortes por ano, e a cada 12 minutos uma pessoa morre no trânsito.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil figura entre os que apresentam maior índice de violência no trânsito. Ao lado da Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito, concentra 62% das mortes por esta causa em todo o mundo.

Outro dado alarmante se refere aos gastos para salvar as vítimas de acidentes. As mortes no trânsito geram um custo aos cofres públicos de pelo menos R$ 50 bilhões ao ano. Com esse valor seria possível construir 28 mil escolas e mais de 1.800 hospitais.

O que dizem os especialistas?

Radares – No ano passado, a Polícia Rodoviária Federal registrou um total de 69.114 acidentes nas rodovias federais do país, que resultaram num total de 58.825 feridos e 5.259 mortos. Reduzir a velocidade em 1% leva a uma diminuição de 2% no número de feridos leves, 3% nos feridos graves e 4% no de mortos, segundo dados da Conferência Global sobre o Uso da Tecnologia para Aumentar a Segurança nas Rodovias.

Para Roberta Torres, especialista em segurança, educação no trânsito e formação de condutores, a formação do condutor, em conjunto com a legislação e as punições, é fundamental porque força a mudança de comportamento.

“Países como a Espanha e Austrália, que há algumas décadas tinham cenários bem parecidos com os que hoje o Brasil apresenta, investiram na formação do condutor, em campanhas de conscientização, uma eficiente fiscalização e punição rigorosa.

Esses três fatores, bem aplicados, transformaram a realidade no trânsito nesses países. A questão é que, no Brasil, é preciso evoluir mais com medidas voltadas para o trânsito”, destaca.

Simulador de Direção Veicular – De acordo com a especialista em simulação, Sheila Vivian, o simulador de direção veicular é uma ferramenta fundamental no processo de formação de condutores. “O Brasil assinou o tratado da ONU (Organização das Nações Unidas), que criou a Década Mundial de Ações pela Segurança no Trânsito e implementou evoluções significativas em seu processo de formação de novos condutores, inclusive utilizando alta tecnologia durante as aulas, com o uso dos simuladores de direção.

Comprovadamente, a simulação da realidade contribui para a melhor capacitação de pessoas nas mais variadas áreas em que é utilizada, como aviação, medicina e no próprio trânsito, o que se observa em diversos países do mundo, como Japão, Austrália, Canadá, Chile, Espanha e Estados Unidos”, destaca.

O equipamento não só oferece a oportunidade de intensificar os processos de aprendizado, padronização e controle da formação de condutores, como também proporciona a inclusão de pessoas e lugares que não teriam acesso a um nível tão alto de informação e inovação.

Para Roberta Torres, especialista em segurança, educação no trânsito e formação de condutores, o uso dos simuladores contribui para que o aluno vá para a prática de direção mais bem preparado.

“O simulador treina o autocontrole e a segurança em situações que simulam a realidade das ruas e estradas, como chuva forte e neblina, por exemplo. Também são simuladas situações adversas e de risco, às quais o futuro motorista não poderia ser submetido com segurança nas aulas práticas em vias públicas, como aquaplanagem e ultrapassagens”, explica.

CNH – Somente em 2018, em São Paulo, mais de 540 mil motoristas excederam os 20 pontos na carteira, o atual limite para a suspensão da CNH.

No mesmo período, o Rio de Janeiro o Detran informou que um em cada quatro condutores já haviam estourado o máximo de pontos em 12 meses. Segundo a especialista em educação digital, Claudia de Moraes, dobrar o limite da CNH a 40 pontos e aumentar para 10 anos o prazo de renovação são erros sem precedentes.

Na opinião dela, tais medidas darão liberalidade para as pessoas cometerem mais infrações. “O nosso trânsito já mata muito e deixa muitas pessoas com sequelas. O índice de acidentes vai aumentar e a consequência é irreversível”.

Ainda de acordo com a especialista, “além do aumento da fiscalização, a educação é o melhor caminho para a preservação de vidas. “A educação precisa ser prioridade”, finaliza.

FONTE: Revista Cobertura