8º Encontro de Resseguros se consolida no mercado

Sucesso total o 8º Encontro de Resseguros que reuniu os principais players do mercado durante dois dias no Rio de Janeiro. No segundo e último dia do evento diversos temas de interesse do mercado.

Paulo Pereira, presidente da Fenaber, destacou a participação dos congressistas. “Superou as expectativas. Esse ano tivemos quase 800 participantes interessados em discutir assuntos importantes ao mercado”, afirmou.

Já o presidente do SindSeg-RS, Guacir Bueno, elogiou o evento. “ O SindSeg-RS marcou presença nesse evento importante que reúne resseguradores. Ficamos felizes quando na abertura, pudemos perceber que as pessoas estão esperançosas. Acreditamos que vamos com apoio e união dos setores avançar bastante”, disse.

João Marcelo dos Santos, do escritório Bevilaqua Advogados, que palestrou em um dos painéis disse que o evento está ficando a cada ano melhor, ganhando público com discussões qualificadas.

“Percebemos que foi sendo construído uma cultura em torno do evento. É o principal evento de resseguros do Brasil e talvez da América Latina e atrai todos os interessados em grandes riscos”, analisou.

Na manhã desta terça-feira, os congressistas debateram a matriz energética do país e o impacto no setor securitário. Participaram o sócio-diretor da RegE Barros Correia Advisers, Tiago de Barros Correia; o ex-diretor presidente da Travelers Seguros, Leonardo Semenovitch; o CEO South America da Allianz Global Corporate & Specialty, Angelo Colombo; e o diretor do ILUMINA – Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético, Roberto D’Araújo.

O diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), Roberto D’Araújo, disse que o país ainda esbarra em questões legislativas, regulatórias e, sobretudo, ambientais, como apontou o durante a plenária “Matriz energética brasileira – mudanças e investimentos”, que abriu, na manhã desta terça-feira (9), o segundo dia do 8º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, e que teve como coordenador o ex-diretor presidente da Travelers Seguros, Leonardo Semenovitch.

“Não podemos falar em matriz energética sem falar em questões ambientais”, alertou D’Araújo. Para ele, o planeta está dando uma “bronca” naqueles que ignoram o meio ambiente durante o planejamento de projetos no mercado de energia.

O palestrante foi enfático: ao mesmo tempo em que as fontes renováveis se mostram instigantes como investimentos, elas também se enquadram num contexto de incertezas, sobretudo quando se avalia a influência do petróleo no mapa da energia.

“Mas, certamente, o caminho será outro”, completou o especialista, referindo-se a um provável boom da exploração de fontes renováveis nos próximos anos, quando a “luta” se travará entre o petróleo e a eletricidade.

Outro assunto discutido durante o dia foram os aspectos relevantes de sinistros apontando os diferentes papéis de seguradoras, segurados, corretores e resseguradores. Participaram desse painel, o VP Claims Large and Complex da Chubb Seguros, Rodrigo Bertuccelli; o sócio do Tavares Advogados, André Tavares; e o sócio do Mattos Filho Advogados, Cassio Gama Amaral.

Entre os temas discutidos, foram as transformações que a Operação Lava Jato teve no seguro de D&O. Os participantes afirmaram que caso se dissemine o não adiantamento dos custos de defesa, este seguro perderá sua finalidade.

Essa foi uma das conclusões a que chegaram os participantes do painel técnico “Temas Relevantes em Sinistros”. Em tese, o D&O tem por finalidade adiantar os custos de defesa, ainda que o administrador tenha cometido ato doloso, define Cassio Gama Amaral, sócio do Mattos Filho Advogados. Mas, com a Lava Jato, o mercado ficou “hard” e algumas seguradoras estão praticando 100% de exclusão, ainda que o ato tenha sido doloso, enquanto outras admitem pagar se o segurado provar que é inocente.

“Isso tira o objetivo do D&O que é adiantar os custos de defesa. Gostaria de ver o D&O voltando às suas origens”, afirmou Amaral. André Tavares, sócio da Tavares Advogados, moderador do painel, completou que “prestação póstuma não é prestação e somente o adiantamento cumpre essa função”. E Rodrigo Bertuccelli, vice-presidente de clains lange da Chubb, acrescentou que “se tirar o custo de defesa do D&O, está se esvaziando o produto. Deve-se pagar e, quem for culpado, vai ter de devolver”.

Regulação

A discussão sobre os efeitos das normas regulatórias sobre as iniciativas de inovação das seguradoras e resseguradoras foi a discussão que envolveu o sócio-fundador do Santos Bevilaqua Advogados, João Marcelo dos Santos; o professor de Direito Administrativo da UERJ, Advogado e Procurador do Estado do RJ, José Vicente Mendonça, e a especialista Sênior em Regulação de Seguro, Luciana Dall’Agnol que falaram sobre o apoio à agenda regulatória da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e a expectativa de que a autarquia adote medidas que deem mais liberdade ao mercado de seguro e resseguro marcaram o painel temático “Perspectivas Regulatórias”.

O tema dominante no painel, coordenado pela especialista em regulação de seguro da CNseg, Luciana Dall’Agnol, foram os efeitos das normas regulatórias sobre as iniciativas de inovação das seguradoras e resseguradoras.

Após avaliar que a Susep está no “bom caminho” ao se comprometer com o avanço das análises do impacto regulatório de suas normativas, José Vicente Mendonça salientou que “isso tem que ser algo muito bem pensado e bem feito” para que não seja, apenas, “uma viagem redonda de autojustificação burocrática”.

João Marcelo dos Santos, que associou à defesa da desregulação ao imperativo de redução do tamanho do Estado no país, considera que a Susep deveria “buscar reduzi-la à demanda que a sociedade tiver”, em favor da competição e da negociação, no caso dos seguros não massificados. Ele criticou o histórico de fixação de padrões que tolhem a inovação e a concorrência, ao mesmo tempo que protegem agentes menos qualificados para inovar e competir num mercado com menos regulação.

O professor José Vicente Mendonça observou que, embora medidas desreguladoras sejam bandeiras empunhadas por todo o setor de seguro e resseguro, seus efeitos colocariam novos desafios às empresas. “Será que o mercado quer mesmo liberdade de mercado? ”, questionou, lembrando que, muitas vezes, em variados ramos econômicos, a oposição à interferência do Estado na economia não impede empresas de pedir socorro estatal em momentos críticos.

Encerramento

Como o resseguro pode ajudar a resolver a lacuna de proteção foi tema de painel no último dia do 8º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro. Participaram do painel o professor de Economia e decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, Luiz Roberto Cunha; o CEO da Terra Brasis Resseguros, Rodrigo Botti; o CEO da Chubb e presidente da FenSeg, Antonio Trindade; e, em pé, o CEO Reinsurance da Swiss Re, Moses Ojeisekhoba.

Oportunidades e desafios do mercado de seguros e resseguros no Brasil e no mundo foram a tônica da apresentação do CEO de Resseguros da Swiss Re, Moses Ojeisekhoba. O executivo foi o palestrante do painel “Como o Resseguro pode ajudar a resolver a lacuna de proteção”.

O coordenador de mesa foi Antonio Trindade, CEO da Chubb e presidente da FenSeg, e os debatedores foram Luiz Roberto Cunha, professor de Economia e decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, e Rodrigo Botti, CEO da Terra Brasis Resseguros.

Moses listou temas que merecem a atenção de seguradoras e resseguradoras, entre eles o aumento do número de catástrofes no mundo. O executivo apresentou alguns dados de 2018: foram 181 desastres naturais, 123 atentados terroristas e 166 enchentes e furacões que deixaram um total de 11 mil mortos e US$ 337 bilhões em perdas econômicas. “São dados que impactam a nossa indústria e nos obrigam a repensar as ferramentas de gestão de riscos relevantes e eficazes e a oferta adequada de seguros”.

A América do Sul, disse o executivo, foi um dos continentes mais afetados por catástrofes naturais nos últimos dez anos, que causaram, segundo ele, perdas avaliadas em US$ 200 bilhões.

Luiz Roberto Cunha falou sobre os eventos climáticos, que impactam a indústria de seguros no mundo inteiro. Citou como exemplo o temporal que causou destruição e mortes no Rio de Janeiro na segunda, dia 8. “Sem investimentos mínimos, eventos climáticos causarão impactos e tragédias mais amplas”.

O acadêmico também ressaltou a questão da crise fiscal no Brasil, afirmando que “o país gasta mais e entrega de menos”. “Gastamos pouco e mal em educação, saúde, segurança e infraestrutura e somos campeões em gastos.

Rodrigo Botti comparou o mercado de resseguros no Brasil e nos EUA. No país norte-americano, produtos de vida têm bastante penetração, assim como o de automóveis (devido à questão de responsabilidade civil). “No Brasil, temos o DPVAT, que apesar de funcionar bem, não tem nenhuma proteção adicional privada. Além disso, a proteção a acidentes de trabalho é algo que provém do sistema público e não do setor privado”.

Antonio Trindade falou sobre o que é preciso fazer para aumentar a cultura de seguros no Brasil. “Primeiro devemos olhar para a educação. A falta de renda também é um fator limitador. Outro ponto é a questão regulatória. No Brasil, é complicado aprovar produtos, o que acaba restringindo seguradoras na oferta de produtos para nichos”.

FONTE: CQCS