Expectativa de mais subsídio acirra disputa no seguro rural

A intenção da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, de destinar R$ 1 bilhão em subsídios para o seguro rural, mais que o dobro do volume atual, trouxe otimismo às seguradoras.

Num movimento para ganhar mercado, há desde empresas que lançaram a modalidade até aquelas que decidiram ampliar o número de culturas atendidas, assim como passar a cobrir o risco financeiro do produtor, além de eventos climáticos.

O governo quer reduzir o crédito subsidiado ao produtor dos bancos públicos, uma vez que a taxa de juro básica está em patamares mínimos históricos e há mais apetite do setor privado para financiar a atividade.

O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, disse esta semana em evento em São Paulo que, nesse contexto, o mercado precisa estar preparado para oferecer o seguro rural. Assim, os bancos privados ficam mais confortáveis em liberar os empréstimos. O seguro rural indeniza o produtor em caso de perdas causadas por adversidades climáticas.

“O produto depende de um programa de subsídio mais robusto e de previsibilidade para deslanchar”, diz Paulo Hora, superintendente-executivo de seguros rurais da BrasilSeg, empresa da holding de seguros do Banco do Brasil, que tem parceria com a espanhola Mapfre no produto.

Líder na modalidade, a empresa atua em 12 culturas diferentes, entre elas as maiores, como soja e milho, mas também outras menos óbvias, como batata inglesa ou cevada. Para este ano, a BrasilSeg espera um crescimento de 11% dos prêmios emitidos na carteira de seguro rural.

O governo federal começou a conceder o subsídio para o seguro rural em 2006, no valor de R$ 31 milhões, correspondente a 35% do preço pago pelo produtor, principalmente pequenos e médios — a agricultura familiar é atendida em outro programa federal, o ProAgro.

Depois de o volume do subsídio ter alcançado quase R$ 690 milhões em 2014, ele começou a cair devido às restrições fiscais, devendo terminar a safra deste ano em R$ 440 milhões. Apesar da queda, muitos produtores continuaram a contratar a apólice, mesmo mais cara.

Com isso, o mercado como um todo, com e sem subsídio, chegou perto de R$ 2 bilhões em prêmios emitidos no ano passado, enquanto em 2014 estava em R$ 1,4 bilhão.

Porém, não houve aumento da área protegida, que ficou em torno de 14% — em países como Estados Unidos e China, a fatia supera 80%. Nos Estados Unidos, a subvenção ao seguro rural chega a US$ 8 bilhões (mais de R$ 30 bilhões).

De acordo com Gabriel Lemos, diretor de seguro rural da Swiss Re, embora o mercado tenha crescido de quatro para 12 concorrentes desde 2006, hoje as apólices ainda estão muito concentradas nos estados da região Sul.

“Com mais subsídios, teríamos maior presença no Centro-Oeste, Norte e Nordeste, regiões carentes de seguros. ” A Swiss Re tem uma parceria com o Bradesco para venda de suas apólices pela rede de agências do banco, muito atrelada aos financiamentos feitos aos produtores. No total, são mais de 30 culturas atendidas.

A japonesa Sompo, que atuava apenas com seguro para máquinas e equipamentos no campo, contratou no ano passado uma equipe de quatro agrônomos para iniciar um projeto-piloto e ingressar na modalidade do seguro agrícola. Neste ano, lançou oficialmente o produto.

“O seguro agrícola é uma modalidade que tem muito potencial de crescimento”, diz Márcio Martinati, superintendente de agronegócios da Sompo. Em caso de adversidade climática que leve à perda da lavoura, a empresa cobre o custo do plantio ou a perda de produtividade — a diferença entre a quantidade de sacas colhidas e a que foi indicada na apólice.

É possível, ainda, adicionar a cobertura de não germinação de sementes por problema de clima. A estimativa da Sompo é alcançar R$ 6 milhões em prêmios emitidos neste ano, e R$ 100 milhões em 2023. Já a Tokio Marine, que estava atuando em apenas três estados e três culturas, ampliou neste ano a cobertura do seguro agrícola para mais de 70 culturas e para todo o país.

Por ora, há um limite máximo de indenização de R$ 3,5 milhões por propriedade. “Com isso, conseguimos distribuir o risco de eventos climáticos”, diz Joaquim Neto, gerente de produtos. A Tokio testou o produto por dois anos e meio e, em 2019, pretende crescer 150%, para R$ 20 milhões em prêmios emitidos.

A meta é estar entre as quatro maiores seguradoras do segmento em três anos. A empresa permite que o agricultor escolha os eventos que quer assegurar. “Os agricultores têm se interessado cada vez mais em adquirir o seguro porque ano a ano eles têm investido em insumos de maior tecnologia e valor agregado”, diz Joaquim Neto.

Segunda maior seguradora nesse mercado, a Essor cresceu vendendo apólices para os produtores de frutas da região Sul, mas tem avançado em grãos e cevada, atendendo hoje mais de 50 culturas. Até agora exposta a eventos climáticos, a empresa planeja incluir a proteção para riscos financeiros no rol de produtos, algo que poucas concorrentes têm.

“Esse seguro combinaria prejuízo decorrente de evento climático com o prejuízo financeiro, como por exemplo a desvalorização do preço internacional da soja”, diz Leandro Poli, diretor técnico da Essor.

Em 2018, o comitê gestor interministerial do seguro rural aprovou a distribuição de R$ 20 milhões em subvenção para o seguro agrícola “faturamento”, que cobre as perdas de receita causadas por condições de mercado.

As seguradoras acreditam que a oferta desse subsídio pode ser mantida nas safras que estão por vir, uma vez que ele traz uma cobertura mais ampla frente aos riscos que afetam a rentabilidade do produtor.

Fonte: BeefPoint I Valor Econômico.