Ironia ou descaso com a vida?

Há mais de 20 anos, quando numa madrugada fria de maio recolhi meu filho no asfalto, quis entender como um jovem lindo, de 18 anos, que eu fui levar numa festa, não voltou para casa.

O carro em que estava de carona, com mais dois amigos, chocou-se contra uma caçamba colocada irregularmente na rua. Algum tempo depois do acidente, foi sancionada a Lei Complementar Nº 7.969, que disciplinava o uso de caçambas nas vias públicas de Porto Alegre. Até então não se sabia quem autorizava que centenas destas caçambas tomassem as ruas e avenidas de nossa cidade.

De lá para cá a legislação já foi atualizada, estando em vigor a Lei Nº 10.474, de 23 de junho de 2008. O que não mudou é o descaso com a VIDA!  A fiscalização e mesmo a punição, previstas nesta Lei, continuam ineficientes para coibir a colocação irregular das caçambas pelas ruas de nossa cidade.

Temos recebido, quase que diariamente, pedidos para que a Fundação Thiago Gonzaga intervenha junto à EPTC sobre estas verdadeiras armadilhas que muitas vezes são colocadas em locais que expõe a vida e a segurança das pessoas.

Recentemente, ao chegar na Fundação, fui surpreendida por uma caçamba, toda preta, “estacionada” em frente a nossa sede. Incrédula, dei meia volta, procurei a sinalização adequada, os elementos retro reflexivos… Nada. Assim como também não constam o nome e o número de telefone da empresa responsável, bem como o nome e o número do órgão de trânsito competente, conforme previsto na Lei.

Diante dos números alarmantes da violência no trânsito no Brasil, nossos governantes não podem continuar só cumprindo a lei quando se trata de punir os cidadãos. E nós – que pagamos nossos impostos – multamos a quem quando nos deparamos e temos que conviver com caçambas, buracos e armadilhas nas ruas de nossas cidades?

Para alguns, pode ser só uma caçamba mal sinalizada. Para mim, é o símbolo do vazio permanente que sinto pela ausência do meu filho. Por isso pergunto: quantos Thiagos precisarão perder a vida até que esta Lei seja cumprida e respeitada?

É preciso urgência, afinal a vida não pode esperar.

Diza Gonzaga

Presidente da Fundação Thiago Gonzaga