Seguro rural impede colheita de prejuízos no campo

Produtores goianos estão sendo atraídos, aos poucos, pelas garantias oferecidas pelos seguros.

Reportagem da Folha Z informa que, em 2014, Goiás perdeu ao menos 15% da produção de soja por causa da seca. Na época, de acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), apenas 27% das lavouras da cultura estavam seguradas no Estado.

Em meio à falta de chuvas e à colheita de prejuízos daquele ano, técnicos da entidade chegaram a se reunir com produtores rurais para explicar a gravidade da situação enfrentada por municípios como Quirinópolis – que decretou situação de emergência a fim de viabilizar recursos federais para cobrir as perdas decorrentes da forte estiagem.

Quatro anos depois, em fevereiro de 2018, um corredor de umidade posicionado sobre Goiás interferiu, conforme indicou o serviço de agrometeorologia Agroclima Pro, no andamento da colheita da oleaginosa. Em abril, a instabilidade pluviométrica da região atrasou o plantio do milho e ameaçou o potencial produtivo do grão, atestando, mais uma vez, que a agricultura é totalmente dependente das condições climáticas e que é imprescindível pensar em mecanismos de proteção durante todo o ciclo de vida das culturas.

Nesse cenário, depois de anos testemunhando os impactos financeiros ocasionados pela imprevisibilidade de fatores externos, os agricultores goianos estão sendo atraídos, aos poucos, pelas garantias oferecidas pelos seguros. No ano passado, por exemplo, o produtor João Batista iniciou o plantio de soja em 450 hectares da Fazenda Laguna, em São Luiz do Norte, somente depois de contratar uma apólice para a lavoura.

“Ninguém quer enfrentar prejuízos agressivos por conta de fatores biológicos, variação de preços ou de temperatura, ventos fortes ou incêndios, principalmente no momento em que as cadeias de produção estão cada vez mais interligadas, onde qualquer falha pode afetar seriamente os negócios locais e do país”, afirma o agricultor.

O caso do senhor João, conforme explica o corretor filiado ao Sindicato dos Corretores e Empresas Corretoras de Seguros no Estado de Goiás (Sincor-GO) e diretor executivo da Esseg Corretora de Seguros, Edmilson Silva, indica que os produtores estão adotando estratégias de gestão de riscos e inserindo os contratos de seguros nas planilhas de custeio das lavouras, sobretudo após a criação, em 2015, do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). O projeto do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apoia financeiramente os produtores que contratam esse tipo de proteção.

Para 2018, o governo disponibilizou R$ 384 milhões para o PSR, recurso suficiente para proteger algo entre 15% e 20% da produção nacional, estimam os economistas.

“Nos Estados Unidos, a título de comparação, cerca de US$ 110 bilhões são direcionados por ano para assegurar o faturamento das lavouras.  Aqui no Brasil, o valor destinado pelo governo à subvenção do seguro rural ainda não é capaz de abranger toda a agricultura nacional. No entanto, estamos avançando e os produtores estão começando a incluir as apólices no planejamento das safras”, pontua Silva.

O seguro rural não se resume apenas à proteção das lavouras. De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), o segmento estende a cobertura para máquinas, construções, instalações e produtos agropecuários; florestas comerciais de eucaliptos, mognos, seringueiras e outras espécies; animais que compõem os rebanhos, como equinos e bovinos; e organismos aquáticos vivos produzidos em cativeiro, como peixes.

No ano passado, a proteção oferecida pelos seguros de máquinas e equipamentos rurais, por exemplo, evitou que o agricultor João Pedro Silva experimentasse prejuízos durante a produção de cana-de-açúcar da Fazenda Lucivel, também no município de São Luiz do Norte. Em maio, o operador da máquina que realizava os tratos culturais da lavoura perdeu o controle e colidiu o veículo em uma árvore.

Após confirmar que havia sido apenas um susto, o agricultor acionou a seguradora, providenciou os documentos necessários à apuração dos prejuízos e aguardou a realização da perícia. Quatro dias depois, a seguradora confirmou a extensão dos danos e autorizou os reparos do trator modelo Massey Ferguson 4292.

“Ao adquirir a máquina, em 2016, contratamos um seguro, que no ano seguinte impediu que eu e a minha família tivéssemos que nos preocupar com a compra de peças novas para reparar os estragos do trator”, lembra João Pedro. Menos de 30 dias depois do episódio, o equipamento voltou a ser utilizado nas terras localizadas na região do Vale do São Patrício.

A modalidade de seguro para máquinas rurais, que emite anualmente um prêmio de aproximadamente R$ 600 milhões e cobre acidentes decorrentes de causas externas, danos elétricos e furtos, se tornou, segundo o corretor Edmilson Silva, um mecanismo moderno de proteção para o agronegócio. “Esse tipo de seguro é fundamental para garantir a continuidade das atividades em caso de danos aos equipamentos, que muitas vezes chegam a custar mais de R$ 1 milhão”, explica.

Ainda segundo o corretor, a ampla cobertura oferecida pelas modalidades do seguro rural demonstra que os produtores dispõem hoje de um conjunto de mecanismos para administrar os riscos em toda cadeia produtiva.

“Os seguros disponíveis para o agronegócio transcendem as questões do clima e cobrem diversos tipos de perdas patrimoniais nos empreendimentos rurais. As modalidades do setor estendem a cobertura para construções, produtos colhidos e estocados, veículos rurais, máquinas e implementos que estão sujeitos a fatores que podem paralisar a produção e gerar perdas”, destaca Silva.

Nos últimos doze meses, conforme balanço divulgado pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), o mercado de seguros rurais cresceu 9,1% no país. Para José Alves, corretor especializado no segmento, o aumento da procura pelos seguros ajuda a criar uma rede de proteção contra a inadimplência no setor agropecuário. “Diante da ocorrência de algum sinistro, o seguro permite que o produtor recupere o capital investido e continue plantando nas próximas safras”, diz.

Dessa forma, segundo o vice-presidente Institucional e de Relações com o Corretor de Seguros do Sincor-GO, Vinícius de Araújo Porto, os seguros contribuem diretamente para a estabilidade social no campo e, consequentemente, para o fortalecimento do agronegócio, que é responsável por 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Os seguros são responsáveis por amparar e reparar eventuais danos no setor e são investimentos indispensáveis para quem planeja crescer no mercado, principalmente porque induz ao uso de tecnologias adequadas e favorece a modernização da produção”, sublinha Porto.

O economista Antônio Bento destaca que o mercado influencia ainda na redução do êxodo rural e na geração de empregos. “Ao criar condições de crescimento sustentável no agronegócio, esses produtos auxiliam na geração de renda no interior do país e impedem o deslocamento de trabalhadores rurais em direção aos centros urbanos”, pontua.

Por isso, o corretor Edmilson Silva defende a massificação das modalidades do seguro rural. “É necessário despertar cada vez mais a necessidade da contratação dos seguros. Aqui no Estado, com o apoio do Sincor Goiás, estamos adotando mecanismos mais eficientes para apresentar aos agricultores e pecuaristas os tipos de coberturas, os critérios de apuração dos prejuízos e a importância de proteger seus negócios”.

Vinícius de Araújo Porto, representante do Sincor-GO, relata que a entidade tem aberto suas portas e suas atividades para o debate técnico e qualificado sobre o seguro rural. “Goiás é um estado cuja economia depende, e muito, do desempenho do trabalho no campo. Portanto, a diretoria do Sincor Goiás tem se colocado ao lado do corretor de seguros para subsidiá-lo com todos os instrumentos necessários para que o atendimento ao produtor se dê da melhor forma possível, fazendo com que o seguro cumpra seu papel: o da proteção do patrimônio e desenvolvimento da economia”, acrescenta.

Contratar um seguro rural é como adquirir qualquer outro tipo de apólice, esclarece o corretor José Alves. “A diferença é que no caso do seguro agrícola, específico para as lavouras, é necessário realizar os croquis das áreas”, diz.

Além disso, para ter acesso ao programa de subvenção do governo, os agricultores devem conduzir as culturas de acordo com recomendações de órgãos técnicos como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e se atentar ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC), estudo elaborado pelo Mapa que identifica a melhor época de plantio das culturas em cada município.

No caso do seguro para florestas comerciais, o mercado oferece ainda flexibilidade na escolha dos níveis de coberturas e franquias. As garantias básicas incluem os prejuízos ocasionados por incêndio e raios. Entretanto, o produtor pode contratar coberturas adicionais para ventos fortes, seca, geadas e granizos. O setor disponibiliza também os seguros Pecuário e Aquícola. As três modalidades contam com apoio do programa de subvenção do Mapa.

Conforme assinala Edmilson Silva, para adquirir uma das opções é necessário procurar um corretor especializado no assunto. “Temos qualificação técnica para melhor dimensionar as coberturas de que os produtores necessitam. Além disso, é importante destacar que, independentemente da categoria, os interessados devem ser criteriosos ao fornecer informações sobre os bens segurados, não omitindo ou alterando quaisquer informações que possam de alguma forma influenciar nos riscos”, finaliza o corretor.

FONTE: Folha Z via SindSeg SP