‘Desafio é manter o peso no lucro do Bradesco’, diz presidente da área de seguros

Diante de onda de aversão a risco, executivo quer garantir que seguro continue respondendo por 30% dos ganhos do banco.

À frente da Bradesco Seguros há 3 meses, Vinicius Almeida Albernaz assumiu o cargo tendo de gerir uma onda de aversão a risco que tomou conta dos mercados e que, no Brasil, teve influência da antecipação da volatilidade por conta das eleições presidenciais.

O principal desafio de Albernaz, que substituiu Otávio Lazari Júnior, atual presidente do Bradesco, é garantir que a seguradora continue respondendo por cerca de um terço dos resultados do banco. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

A seguradora revisou para baixo suas expectativas de prêmio para 2018. Por quê?

Saímos de uma expectativa de crescimento de 4% a 8% para 2% a 6%. É uma pequena revisão que busca reconhecer uma realidade de mercado. A própria CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras) revisou suas projeções.

Além disso, queremos impor uma disciplina de preços um pouco maior em algumas carteiras para ter um crescimento sustentável e com rentabilidade no longo prazo. Crescer no mercado de risco é fácil. Crescer com rentabilidade é o jogo que queremos jogar. A revisão é também reconhecer que o mercado como um todo está um pouquinho mais desafiador.

Em que sentido?

Principalmente em previdência, cuja arrecadação teve queda de 5% no mercado. Percebemos mais conservadorismo por parte dos clientes na hora de tomar decisões de alocação. Mas estamos bastante otimistas em termos de oportunidades de crescimento.

O crescimento no segundo semestre vem puxado por quais segmentos?

Temos uma expectativa positiva com os ramos de previdência e de (seguro de) vida.

Qual o foco da sua gestão à frente da Bradesco Seguros?

A Bradesco Seguros já tem um posicionamento muito importante e relevante. Temos inúmeros projetos em andamento, como o de transformação digital, e outros relacionados a melhorar cada vez mais a nossa capacidade de gerar produto e qualidade de serviço que atendam às necessidades dos nossos clientes.

A seguradora representa cerca de 30% do lucro do Bradesco. Qual o seu principal desafio no comando da companhia?

O grande desafio é manter essa participação relevante e ser capaz de dar respostas em termos de produtos num mundo que está mudando rápido.

Na compra do HSBC, o mercado avaliou o preço R$ 5 bilhões acima do valor justo por conta do potencial de sinergia do lado do seguro, que ainda não decolou. Como alavancar os resultados dos clientes do HSBC?

Estamos gradualmente capturando essas sinergias e ganhos. Temos uma grade de produtos completa com soluções de seguros para esse público.

Em termos de ações, nós não temos uma específica para o público do HSBC. Acreditamos que vamos conseguir capturar não só o cliente do HSBC, mas no próprio cliente do banco, uma proporção maior de negócios.

Em termos de penetração de correntistas, 43% dos clientes do Bradesco têm produto de seguros, sendo que, na média, cada um possui 1,6 produto. Esse número só demonstra o potencial que temos dentro da própria carteira de clientes do banco.

O Itaú Unibanco apostou num modelo diferente de atuação em seguros, abrindo a sua plataforma para outras seguradoras. A Bradesco Seguros cogita seguir a estratégia do concorrente?

Não. Temos um foco no negócio de seguros diferente. Não acho que tem um modelo certo ou errado. Achamos que oferecer uma solução completa de seguros para o cliente tem vantagens no longo prazo.

Ainda que possamos ter evoluções, como no caso dos grandes riscos, onde temos a joint venture com a Swiss Re Corporate Solutions, ainda assim queremos estar no risco. O nosso modelo traz grandes vantagens para a organização no longo prazo.

Como o sr. vê a participação de cada frente diante da transformação digital?

Queremos estar presentes em todos os canais de distribuição. Não focamos em um único. Precisamos estar presentes e saber nos relacionar com as diferentes gerações de clientes, porque esse é um mundo em mutação.

O corretor é um canal muito importante para nós. Temos os gerentes, os canais digitais do banco e os próprios da seguradora. Muitas vezes, o produto de seguro tem uma complexidade que torna a venda consultiva necessária.

O que vemos em várias experiências no mundo é que, dificilmente, a venda de seguros se completa no meio digital. O grande desafio é integrar de maneira eficiente todas as camadas de relacionamento com o cliente.

Fonte: Aline Bronzati, O Estado de S.Paulo