Carros autônomos podem reduzir engarrafamentos, mas não o seguro

Quando os veículos sem condutor reduzirem a frota de carros particulares nos próximos anos, é possível que as seguradoras não enfrentem uma quebra das receitas, como tem sido antecipado.

“Não prevemos uma queda repentina nas receitas das seguradoras por causa dos veículos autónomos”, escreveu Alejandro Zamorano, analista da Bloomberg New Energy Finance, num relatório. “Em vez disso, esperamos uma mudança gradual no tipo de produtos de seguro automóvel, bem como novas fontes de receita para as seguradoras”.

Esta avaliação contrasta com as anteriores previsões para o sector, muito mais pessimistas. Um relatório de 2016 do Morgan Stanley, intitulado “Are Auto Insurers on the Road to Nowhere”, estimou que o negócio poderia sofrer uma contração de 80% até 2040. Mas, como ficou claro depois de alguns acidentes fatais envolvendo veículos autónomos nos últimos anos, os seguros deverão evoluir, e não desaparecer.

Uma das coisas que deverá mudar é quem paga a apólice, segundo a BNEF. Em vez dos condutores, o mais provável é que sejam as fabricantes e empresas de tecnologia a precisar de cobertura, sendo que essa mudança pode ser proveitosa para as seguradoras que se conseguirem adaptar mais rapidamente.

“Apesar das possíveis mudanças na natureza do prémio, as oportunidades para o sector dos seguros seriam maiores”, apontou Fred Donner, diretor da FTI Consulting, em entrevista. Donner acrescentou que uma dessas oportunidades é o seguro contra-ataques cibernéticos aos veículos.

Mesmo que a condução autónoma torne as estradas mais seguras, os acidentes que ocorrerem poderão sair muito mais caros porque danificarão sensores dispendiosos, por exemplo. Isso já está a acontecer com a adopção de novas tecnologias pelas fabricantes de automóveis, como câmaras instaladas nos para-choques, o que aumenta o custo médio das reparações.

O caminho rumo a um futuro verdadeiramente revolucionário é longo. Em vez de os carros totalmente autónomos assumirem o controlo, o mais provável é que os condutores usem recursos autónomos durante parte do tempo, para estacionarem ou quando ficarem presos no trânsito. Por enquanto, isso criará margem para que as seguradoras cubram tanto o proprietário, individualmente, como o carro em si.

“Essa transição é muito difícil – há poucas empresas que façam as duas coisas”, disse Tanguy Catlin, sócio da McKinsey. “A oportunidade das empresas de seguros é reconhecer que a era dos veículos autónomos está a chegar”.

Fonte: Jornal de Negócios – Portugal