Mistura de drogas com direção: um problema maior do que se imagina

Desde março de 2016, os condutores das categorias C, D e E (caminhões, micro-ônibus, ônibus e reboques) são obrigados a realizar o exame toxicológico no momento de renovação da carteira. Com a coleta de uma pequena quantidade de cabelo, pelos ou unha, é possível identificar se o indivíduo fez uso regular de drogas nos últimos 90 dias. No primeiro ano da exigência do exame, mais de 400 mil motoristas não renovaram a carteira para fugir desse exame, na maioria dos casos. É a chamada positividade escondida.

A categoria mais visada para o exame toxicológico é a de caminhoneiros que trabalham num regime de exploração. Para ficarem acordados, estes profissionais muitas vezes fazem uso de drogas como rebite e cocaína para suportar jornadas que podem chegar a 50 horas.

Esta semana, por exemplo, um caminhoneiro foi flagrado na BR-262, no Mato Grosso do Sul, completamente alucinado, a ponto de ter se atirado do seu caminhão ainda em movimento. Ao ser preso, admitiu ter consumido 20 comprimidos de rebite. Cocaína e maconha também foram encontradas no seu veículo.

Em estudo realizado pelo Estradas, foram identificados 363 acidentes fatais somente neste ano, envolvendo caminhões e automóveis. Deste total, 17 mortes foram de ocupantes dos caminhões e 605 nos automóveis.

É lógico que os caminhoneiros não são os vilões nesta situação, mas a colisão de um caminhão, que pesa dezenas de toneladas e geralmente é ocupado por apenas um indivíduo, causa muito mais mortes do que outros acidentes. Pensando nisso, até o valor do Seguro DPVAT precisaria de uma revisão devido ao grande impacto gerado por esses veículos.

Mas também é necessário evitar o uso de drogas pelos demais motoristas, em especial, os mais jovens. Isso se torna ainda mais importante quando verificamos que não existem registros de CNHs suspensas de condutores flagrados sob efeito de drogas em carros e motos nos Departamentos Estaduais de Trânsito (DETRANs).

Para combater essa epidemia, é necessário desestimular o uso das drogas de modo cada vez mais efetivo, exigindo o exame toxicológico antes da habilitação. Dessa forma, o jovem irá entender que quem consume drogas não pode tirar a carteira. A fiscalização do uso de entorpecentes pela Lei Seca também é eficaz nesse sentido.

Precisamos lembrar sempre que drogas e direção representam uma mistura fatal e a vítima pode ser você ou algum dos seus familiares.

Fonte: Viver Seguro no Trânsito – Por Rodolfo Rizzotto, Coordenador do SOS Estradas