Prejuízo total do furacão Harvey pode chegar a US$ 100 bi

HOUSTON – Apesar de o furacão Harvey já ter sido rebaixado para tempestade tropical, os estragos provocados pelas inundações podem impactar a economia do Sul do Texas pelos próximos meses.

As indústrias de energia e os seguros estão lutando para avaliar o prejuízo deixado pela tempestade que, segundo analistas, poderia ser uma das 10 mais caras da história dos EUA. Enquanto as estimativas iniciais sugerem que o prejuízo financeiro já atingiu dezenas de bilhões de dólares, um especialista já prevê que a conta final poderia chegar à marca dos US$ 100 bilhões.

A escala completa do desastre não está clara, mas as autoridades disseram que pelo menos nove pessoas morreram e 30 mil foram forçadas a sair de suas casas, enquanto quase meio milhão de americanos pode depender de algum nível de assistência federal.

As previsões sobre o prejuízo total, porém, variam amplamente. Segundo o banco americano JPMorgan Chase, a conta das seguradoras deve ficar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões.

Outros analistas estimam o provável dano entre US$ 30 a US$ 50 bilhões — mas são unânimes na hora de destacar que os seguros não vão cobrir a totalidade desse valor. Por outro lado, David Havens, analista de seguros da Imperial Capital em Nova York, disse à Bloomberg News que a conta final poderia atingir até US$ 100 bilhões.

A quantia se compara com o dano de US$ 120 bilhões causado pelo furacão Katrina em 2005, que incluiu US$ 80 bilhões de perdas seguradas, e com as perdas de US $ 75 bilhões causadas pelo furacão Sandy em 2012.

POUCA COBERTURA DE SEGUROS

O desastre voltou a destacar as deficiências de seguros contra inundações. Isso porque as seguradoras do setor privado não incluem danos causados ​​pelas inundações em apólices residenciais. Apenas cerca de 269 mil propriedades na área de Houston fazem parte das zonas oficiais de inundação — que exigem que elas tenham cobertura contra enchentes, caso a propriedade tenha uma hipoteca com seguro federal, segundo informou o provedor de dados CoreLogic. Mesmo assim, mais de quatro vezes esse número de propriedades residenciais na área — cerca de 1,2 milhões — não residem na zona oficial, mas tem risco “moderado” ou “alto” de inundações.

Como as apólices de seguro dos proprietários tendem a excluir a cobertura das inundações, a maioria dos pedidos relacionados às enchentes serão financiados pelo Programa Nacional de Seguro de Inundação dos EUA.

Muitas pessoas, porém, não conseguiram comprar cobertura do programa ou deixaram suas apólices caducar, segundo informou o New York Times. Por isso, Charles Watson, da empresa de análise de dados, Enki, estima que somente o dano para casas poderia totalizar US$ 30 bilhões. Desse total, a empresa de análise de dados de imóveis e seguros CoreLogic, estima que o seguro privado deva cobrir de US$ 1,5 bilhão a US$ 3 bilhões.

EFEITO LIMITADO NOS MERCADOS

Apesar de as seguradoras conseguirem administrar as perdas para a indústria, as 24 maiores empresas do setor perderam cerca de US$ 12 bilhões de seu valor de mercado na segunda-feira. O Índice de Seguros KBW caiu 2,3%, após a percepção de que os danos foram piores do que o previsto inicialmente, segundo informou o “Financial Times”. As empresas que venderam políticas de seguros comerciais devem ser as mais atingidas.

As ações da seguradora Progressive caíram 2,25% e da Allstate, a segunda maior do Texas, recuaram 1,49%.

— É um estrago muito grande, mas só afeta determinados segmentos, como o das seguradoras, principalmente, e das empresas atingidas na região. É um efeito mais localizado — explicou Marink Martins, consultor da MyCap, homebroker da corretora Icap.

A tempestade também afetou os mercados de energia. A gasolina nos Estados Unidos subiu 3,5%, para US$ 1,72 por galão na segunda-feira. Já o petróleo bruto caiu 3,4% para US$ 46,25, após a tempestade obrigar refinarias de petróleo, como a de Pasadena, a fecharem. Entre as empresas do setor de petróleo, os papéis da Exxon caíram 0,33%, e a Royal Dutch Shell registrou recuo de 0,41%.

Os comerciantes disseram que os preços poderiam piorar, à medida que a extensão da destruição se torne mais clara.

— Há apenas muita incerteza nesse ponto — disse Mark Anderle, diretor de fornecimento e comercialização da TAC Energy, um atacadista de combustíveis baseado em Dallas. — Até a tempestade passar, até que eles possam entrar e avaliar potenciais danos às refinarias, oleodutos, etc., é difícil dizer.

O economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi, estima que o Produto Interno Bruto (PIB) da região deve ter uma queda de 1%, entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões. Zandi acredita, no entanto, que a recuperação começará a aparecer com os pagamentos de seguros e fundos do governo para a reconstrução.