IPO do IRB Brasil RE movimenta R$ 2 bilhões

O IRB Brasil RE, maior resseguradora do Brasil, está em várias mídias hoje com informações relevantes sobre uma tentativa que se desenrola há anos: o IPO. A avaliação das ofertas de sua abertura de capital fechou a operação com um preço de R$ 27,24 por ação, o piso das indicações, que iam até R$ 33,65, com média de R$ 30,45. Com isso, a oferta movimentou 73.554.000 ações ordinárias (ON, com voto) no valor total de R$ 2,004 bilhões, sem contar os lotes complementares e suplementares.

O Valor conta que a resseguradora contou com uma demanda de cerca de R$ 4 bilhões por seus papéis, vendendo o lote básico de ações e o suplementar, que aumenta a quantidade de papéis em 15%. Não houve o exercício do lote adicional. Os investidores estrangeiros ficaram com dois terços das ações.

A oferta atraiu grandes investidores internacionais, como Capital International, Capital Research, Fidelity, BlackRock, Lazard, Wellington e GIC (fundo soberano de Cingapura), numa combinação que não vinha sendo vista desde 2013. Apesar do preço mais baixo, a oferta pode ser considerada positiva diante do grande volume de operações concentradas neste mês. Na semana passada, o Carrefour levantou R$ 5 bilhões em seu IPO. A estréia na bolsa será na segunda-feira, evento para o qual os jornalistas foram convidados.

A União não vendeu suas ações e manteve 11,68% do IRB, conta o Valor. Já o Fgeduc reduziu sua fatia de 15,76% para 8,86%, embolsando R$ 585,81 milhões. Maior acionista vendedor do IRB, o Fgeduc assegura parte do risco das operações do Fundo de Financiamento ao estudante do Ensino Superior (Fies).

BB e Bradesco diminuíram cada um suas fatias de 20,43% para 15,23%, enquanto o Itaú encolheu de 14,94% para 11,14%. O FIP Barcelona, que reúne os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa), saiu de 9,84% para 7,37%.

Segundo a Exame, a abertura do capital da uma estatal é vista como a mais promissora do momento pelos analistas. As ações estão previstas para começar a ser negociadas no dia 31 de julho. Uma das vantagens do IRB é o fato de a empresa ser líder de mercado: tem 55% de participação, o que dá escala para fazer investimentos.

Além disso, diversificou suas receitas – apenas 65% delas vêm do Brasil; o restante, de contratos fechados com empresas do exterior, principalmente América Latina e Europa – e tem uma alta margem de lucro. Em 2016, o retorno sobre o patrimônio chegou a 31%, número que deve cair com a redução dos juros, mas tende a continuar acima da média internacional, de 9%.

Um risco é o controle estatal, o que abre espaço para interferências políticas na gestão. 0 outro é a grande concentração de aberturas de capital em poucas semanas e o fato de os preços das ações estarem, de forma geral, elevados, cita a Exame.

O Valor destaca que após quase dez anos desde o fim do monopólio do IRB, a regulação do setor de resseguros no Brasil ainda permanece protecionista e dificulta um desenvolvimento mais rápido dessa indústria. Os entraves, segundo especialistas, impedem que o país se torne um polo estratégico na América Latina.

O IRB lidera a lista com 52,4% do mercado, ou R$ 3,67 bilhões em prêmios, seguido pelas européias Zurich Resseguradora, com R$ 551 milhões, Munich Re, com R$ 457 milhões, e Allianz, com R$ 367 milhões.

Toda essa dinâmica não será alterada pela oferta de abertura de capital do líder IRB, conforme explica ao Valor Mauricio Masferrer, vice-presidente de relacionamento com o mercado da corretora Aon Brasil.

Isso porque a União ainda continuará no controle do negócio, detendo a “golden share”, e os bancos também não vão se desfazer de toda participação que possuem na companhia. Para que haja alguma mudança, segundo o especialista, seria necessário a alteração do controle da estatal, com a entrada de executivos com novas estratégias de atuação.

Há boatos de que a Berkshire Hathaway, empresa do bilionário Warren Buffett, negocia a compra de uma fatia no capital do IRB no após o IPO, de acordo com duas pessoas com conhecimento direto do assunto informaram a agência internacional de notícias Bloomberg. No Brasil, a notícia causa desconfiança, uma vez que a estratégia de Buffett é ganhar dividendos e não entrar para reestruturar. “Fizeram isso com o 3G na Kraft Heinz e a opinião publica americana foi muito crítica. Não vejo porque o IRB”, disse um fonte ao Blog Sonho Seguro. Já outra fonte afirma que em breve o setor lerá a notícia de que a Berkshire é acionista do IRB.

Na visão de Rodrigo Botti, diretor da Terra Brasis, em termos de volume, o mercado de resseguro tem sofrido menos que outros setores da economia e menos até o que setor de seguros”, afirma. A maioria dos ramos de seguro que utilizam resseguros não são tão cíclicos e correlacionados com crescimento econômico de curto prazo.

A preocupação maior, segundo ele, é com a sinistralidade, que tende a aumentar em períodos de baixo crescimento economia deprimida. Neste sentido, o mercado brasileiro tem mostrados certa recuperação, porem seus níveis de sinistralidade ainda se encontram acima dos níveis internacionais. Além disso, os possíveis impactos da lava-jato e outras investigações ainda demorarão para se tornarem visíveis em algumas linhas de negócios como o seguro garantia, D&O entre outros, comentou ele ao blog Sonho Seguro e Infomoney.