Crise aguça a percepção de risco dos empresários e eleva demanda pelo seguro ambiental

 

Esse terremoto político pelo qual o Brasil passa aumenta a percepção de riscos a que todos estão expostos. Entre eles, um que tem despertado a atenção dos empresários é o risco ambiental. “A demanda pelo seguro ambiental está aquecida.

Os empresários se interessam por ouvir o que temos a dizer sobre os riscos a que estão expostos, o que devem fazer para mitigar a ocorrência de acidentes e qual a parcela do risco que pode ser transferida para a seguradora”, conta Fernando Paes, diretor da Liberty International Underwriters (LIU), divisão de riscos especiais do Grupo Liberty Mutual.

Ajudar seus clientes a perceberem os riscos a que estão expostos em caso de uma poluição súbita e criar soluções diferenciadas para cada um deles tem ocupado boa parte da agenda da agenda do executivo e também da engenheira ambiental Lívia Barreira, subscritora de responsabilidade ambiental da LIU.

“Um simples vazamento em um tanque de combustível de um posto de gasolina pode gerar uma perda expressiva para todos, tendo com responsável o proprietário do estabelecimento”, diz ela, que vem, a cada dia, difundindo a cultura do risco ambiental no mundo corporativo, mas diversas esferas de companhias, de pequeno, médio e grande porte, de todos os segmentos.

Bruno Pieroni, engenheiro de riscos e prevenção de perdas da JLT, confirma que a procura pelo seguro ambiental tem crescido. “A preocupação das empresas e o interesse por esse ramo específico de seguro está maior, porém a real contratação desse tipo de seguro ainda esbarra em questões orçamentárias, pelo fato de ser uma nova opção de seguro, além da questão da análise do risco e conscientização”.

É certo que alguns acidentes ajudaram a aquecer a demanda pelo seguro ambiental. Na memória estão casos como a tragédia com o rompimento das duas barragens da Samarco em novembro de 2015, em Mariana (MG). Em 2016, o Ministério Público Federal calculou as perdas causadas pela Samarco e controladoras Vale e BHP em R$ 155 bilhões.

Também na lista de eventos caóticos uma busca no Google traz os prejuízos do Shopping Center Norte, um empreendimento de R$ 110 milhões, construído em cima de um lixão e que precisou ser fechado por vazamento de gás metano.

Fora os derramamentos de óleo com exploração de petróleo, como o da British Petroleum, que concordou em pagar multa de aproximadamente US 20 bilhões pelo acidente no Golfo do México em 2010 ao governo federal e aos Estados de Louisiana, Mississippi, Alabama, Texas e Flórida em reparação pelo prejuízo ambiental.

A repercussão desses casos deixou muito claro a exposição das empresas e amplitude que um dano ambiental alcançar. No entanto, a falta de cultura pesa bastante. “Embora tenhamos observado um aumento na procura e no fechamento de negócios ainda precisamos passar por essa etapa de conscientizar as empresas para contração de uma apólice”, afirma a subscritora da LIU.

Além da conscientização, o preço ainda pesa no orçamento, diz Pieroni. “Apesar de a preocupação das empresas e o interesse por esse ramo específico de seguro estar maior, a real contratação desse tipo de seguro ainda esbarra em questões orçamentárias, pelo fato de ser uma nova opção de seguro, além da questão da análise do risco e conscientização”.

Segundo Paes, esse tipo de seguro ainda é muito novo no Brasil, diferente de países europeus, Estados Unidos e até mesmo o México, que passou a ter uma regulamentação de obrigatoriedade do seguro para cobrir danos ao meio ambiente.

No Brasil, o trivial ainda é que a contratação de um seguro de responsabilidade civil comum, que não engloba os riscos ambientais. “Por isso estamos alertando os clientes sobre o problema, pois é melhor não espera acontecer o problema para depois contratar. A cultura da prevenção é o melhor caminho”, argumenta Paes.

O objetivo do seguro ambiental é atender à demanda de poluição súbita ou gradual. A poluição súbita é aquela ligada a uma indústria, um armazém, que de repente sofre um acidente, explica Lívia. “Um acidente com um caminhão que transporta suco de laranja, por exemplo. Se o suco escorrer para um rio ou para uma área plantada, pode causar grande prejuízo, uma vez que acidez da carga pode comprometer ecossistemas”.

O objetivo do seguro ambiental é atender tanto à demanda de poluição súbita quanto da gradual. A poluição súbita, ou acidental, é aquela na qual é possível delimitar um período de início e fim, que normalmente é de 72 horas, como no tombamento de um caminhão na estrada, explica Lívia. “Um acidente com um caminhão que transporta suco de laranja, por exemplo. Se o suco escorrer para um rio ou para uma área plantada, pode causar grande prejuízo, uma vez que acidez da carga pode comprometer ecossistemas”.

A poluição gradual, se estende por um período maior, que pode ser até de anos, como o de um vazamento paulatino de um tanque de armazenamento subterrâneo em um posto de combustível ou até mesmo um incêndio que se estenda por dia. Indústrias, armazéns e transportes estão sujeitos a acidentes que se enquadram nos dois casos.

Segundo os especialistas, o seguro ambiental possui como “gatilho” da apólice uma condição de poluição ambiental, que fornece proteção para custos de limpeza (clean-up) dos locais próprios e de terceiros, custos de defesa, reclamações de terceiros relativos a danos pessoais e materiais, lucros cessantes de terceiros, decorrentes de poluição ambiental além de outras coberturas. Vale lembrar que o seguro não cobre multas.

Boa parte das empresas certificadas com as várias ISOs, que buscam mitigar riscos de danos ambientais, com regras para descartes de material e gerenciamento de risco. Quando a empresa conta com certificações ambientais e processos robustos de gerenciamento de riscos, esses fatores são considerados na análise de risco e podem, consequentemente influenciar na precificação do seguro.

As que ainda estão em fase de adotar medidas de segurança ambiental contam com a ajuda da seguradora na avaliação do risco, processo no qual a seguradora avalia os pontos que podem ser trabalhados pelo cliente para viabilizar a contratação de um seguro ambiental mais adequado às suas necessidades. Essa troca de informações beneficia tanto o cliente, quanto a seguradora.

“É um trabalho de formiguinha, mas que tem trazido um retorno muito relevante para a seguradora como especialista em riscos.

O aumento da demanda pelo seguro ambiental vem tanto da conscientização dos empresários como também pelas punições mais pesadas impostas pelas legislações ambientais aprovadas nos últimos anos. ”, cita Fernando Paes.

Divulgar o seguro neste momento de economia reprimida é plantar uma semente para quando os projetos de infraestrutura, vitais para o Brasil seguir na rota de crescimento, voltarem à mesa de negociação do governo e da iniciativa privada. Isso porque o seguro ambiental já é uma das exigências dos investidores e financiadores de projetos, que podem ser responsabilizados mesmo se o dano ambiental é cometido por terceiros contratados para a execução da obra.

Pieroni explica que o seguro ambiental não é uma opção apenas para quem executa obras, ou produz algo. A demanda por esse tipo de apólice já tem sido exigida também por quem está financiando projetos, algo que até um tempo atrás não era usualmente observado no Brasil. Para transações imobiliárias de compra e venda de ativos e para acordos de M&A o seguro ambiental também pode oferecer soluções”, acrescenta.

Ainda não há uma relação de obrigatoriedade de contratação de seguro para a obtenção de licenças ambientais. No entanto, na Política Nacional de Resíduos Sólidos, o seguro é mencionado como um dos itens que pode ser exigido. “Mesmo não sendo obrigatório, o seguro ambiental pode ser visto como uma importante ferramenta de gestão e sinal de boas práticas ambientais da empresa contratante”, explicam os executivos da LIU.

“A principal contribuição que o mercado de seguros pode dar ao meio ambiente é auxiliar na prevenção, gerenciando riscos. Pode ser que caminhemos para uma legislação que obrigue a contratação de seguros.

Se isto se efetivar, abre-se um importante mercado para setor de seguros e, o mais importante: garante-se a preservação de um meio ambiente sadio para todos nós”, afirmou o diretor do Clube dos Corretores de Seguros do Rio de Janeiro (CCS-RJ), Amilcar Vianna, em palestra proferida no início de maio durante o Seminário do Grupo Técnico de Meio Ambiente da Confederação Nacional do Comércio, no Rio de Janeiro.

Fonte: Sonho Seguro